(...) como sentimentos se transformam e como as pessoas se adaptam, dependendo da situação.
Engraçado ver uma idéia transformada, uma certeza esquecida, uma afirmação guardada na gaveta. É engraçado ver que os seres humanos se acomodam com tudo e, incrível e surpreendentemente, se acostumam com aquilo que sempre negaram.
Mais engraçado ainda é ver certos sentimentos esquecidos voltarem, ver pessoas indo embora e perceber que você nunca aprendeu a dizer adeus ao seu passado, temendo que, ao fazer isso, deixará para trás não só o que te faz mal, mas os melhores momentos da sua vida. É como pegar toda a sua vida, toda a sua história e apagar, deixando apenas restos de uns dias, umas lembranças mal apagadas e uma leve dor, que só te remetem a certos segundos, onde a calma e a alegria se resumiam a um único nome.
Ao mesmo tempo, é estranho sentir alguns dos segundos de sua história surgirem de repente em sua mente, fazendo você perceber que na verdade, nunca superou ou nunca esqueceu, fazendo com que você perceba que por mais distantes ou desbotadas que sejam, aquilo é um fragmento seu, que você deixou cair no chão pelo caminho. Fazem você despertar, então, para um certo desespero, um certo socorro. E percebe que, passe o tempo que passe, não deixou de ser o que se foi um dia.
Então vem aquela melancolia, aquela dor, aquele sentimento que você lutou para esquecer por tanto tempo. Vem atravessando paredes, travesseiros e cobertores, rasgando livros, fotos e lembranças, te fazendo perguntar o porque de tudo aquilo. Até que, um dia, você se descobre forte, e é acometida por um sentimento que ficou ausente por um longo tempo, que você estava certa que nunca mais sentiria. É como andar de bicicleta, depois de alguns anos. Você fica insegura, temendo passar por tudo de novo, mas a sensação de aventura e o simples fato de perceber que pode sorrir, te fazem seguir em frente.
É a segunda fase, o recomeço. É como ressurgir. E mesmo com o medo, você sente que irá superar. No fundo, aliás, você sabe que vai superar. Sabe que vai valer a pena se arriscar e se livrar daquelas marcas. O medo o domina até o ponto em que você se põe de pé e dá o primeiro passo, e ele sente que deve deixar seu corpo. Você se olha no espelho e percebe que novamente sorri e se desarma: sabe que no fundo do túnel, haverá uma mão esperando o toque da sua. Todo aquele redemoinho de sensações se forma, mas como tudo na vida, ele também se vai.
Talvez você volte a sentir tudo de novo, talvez você descubra que não é a pessoa certa, mas por que não tentar? Por que não arriscar? Por que não ser feliz? Por que não tentar amar?
São estranhos os detalhes da vida. É estranho o medo, é estranho ser feliz. E por mais que você repita aos outros o quanto eles devem arriscar, você não consegue fazer isso para você mesmo. E então você dá o primeiro passo. E o segundo. E o terceiro. E a cada passo começa a deixar aquela sensação te dominar. Aquela, que você achou que tivesse esquecido.
E percebe que, além de forte, você pode ser feliz. E vai percebendo, aos poucos, que nem sempre amar é sofrer e que a sua felicidade não depende de ninguém, a não ser de você. E vê que, em algumas vezes, o cara que pode te fazer feliz é aquele que você nega, que você, no fundo, teme gostar. Arrisque-se, tente viver. Permita-se ser.
E no fim você percebe o quão correto é a frase que afirma que na verdade, encontraremos quem sempre procurou por nós. E que não adianta temer, que não adianta comparar. E então você começa a sentir as borboletas dentro de si, os sinos tocando e as estrelas... Ah! As estrelas sempre brilhando mais forte em você.
É engraçado como você se percebe feliz e finalmente pode sorrir pra vida e agradecer, e ver que todo aquele medo foi embora, e aquela angústia evaporou. E começa então a ver as coisas simples, as notas musicais colorindo seu mundo. E aprende que no final das contas, somente as coisas que valem a pena ficam gravadas naquele lugar dentro de nós, o famoso e conhecido coração. E vê que tudo tem sabor de sonho, e que o sonho se prende a você, como tinta permanente.
0 comentários:
Postar um comentário